Monday, January 22, 2007

Ser

A criança, quando criança, sente o vento bater-lhe na cara e pergunta-se não o que é ou como é, mas de onde vem? para onde vai? E ri alegre com a descoberta desse novo amigo que com porquês, mas sem respostas, é.
O vento que lhe sacode o cabelo sabe-lhe bem. A criança, em criança, ri do vento porque lhe faz cócegas e não lhe deixa abrir os olhos que, impacientemente, esfrega para que possa ver as inúmeras cores que ele lhe mostra. Porque a criança, sendo criança, quer ver tudo o que é real e saber porque é assim: o céu azul e não verde, e ela com pele e o céu com nuvens.
A criança, se criança, sonha brincando com as nozes que lhe caem em cima (por causa do vento? e porque é que o vento quis que elas caíssem?), olha-as extasiada, porque são castanhas como seus olhos, e não importa que nutrientes as formam, sabe-lhe bem trincá-las assim duras, depois de arranhar os dedos ao tirar-lhes a casca, para depois as cuspir porque amargas. E rir. E correr por entre o vento à procura de algo novo num mundo com anjos e animais que falam. Dentro de si.
A criança, quando criança, porque criança, cai. E por isso chora. E logo se levanta. E ri.
A criança, quando criança, ergue sem medo os olhos ao sol e fascinada constata o dourado do dia.
A criança, que pode hoje ainda ser criança, é o homem, é a planta, é o cão, é o rio. A criança não é o sonho, não é também a esperança. A criança é o ser.

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