the queerest of the queer
Puxar o cabelo para trás, endireitar as costas, mudar de posição num pequeno contorcer das nádegas, maior o aparato do que a real deslocação. Não, não há canetas, hoje teclas. Sinto falta das canetas. De sentir as canetas entre meus dedos flutuando, riscando raiva, amachucando o papel, atirá-lo e nunca cesto no caixote ao fundo. Hoje só teclas. E a falta de sentir algo palpável. Algo que seja além de mim.
Há tanto tempo... outra pessoa que não eu. Agora o espelho gritar eu, mas já não ser eu. Uma face vazia, uma cara qualquer, tão sisuda e enfadonha, tão nula, tão nada. Se o fracasso tivesse rosto, sei-lo, seria assim. Seria eu.
Em tempos ouvi dizer que renasceu vida por entre as rochas. Flores à tua volta e assim um novo alguém. Contigo sempre só alguéns. Não sei sequer se temos nome. Acho que sem o saber, certamente sem o querer, alguém me revelou o que calculo que quisesses esconder. Depois de mim o mundo não parou. Sempre tu e o teu astro imaginário em que envolto te vês. Iluminado, julgas tu. Asseguro-te que a lâmpada está fundida. Não emite calor algum. Há muitos anos que, como eu, é somente um nada. Um calor de nada, um sentir de nada, um viver de nada, um amor de nada. Era de ausência de respeito a que se quer chamar amar.
Acabei por descobrir o que significa definhar sem estar doente. Se encosto os dedos uns aos outros descubro inusitadas camadas de gordura; o meu corpo meros ossos segurando a pele manchada de altinhos brancos; já não vejo madeixas de cabelo cair-me no rosto, camadas de empapada oleosidade juntam todas as fibras capitares; se os pés me gelam lá em baixo não quero saber, e a minha cama é o mundo inteiro. Às vezes rompo com a letargia e encontro o abismo. Pesadas camadas de névoa à minha volta, e um pânico crescente em auto-ódio, perder o medo ao tétano e golpear-me furiosamente. Porque mereço. Porque falhei em tudo. Porque me envergonho. Porque agi mal. Porque te perdi. Porque nunca te tive. Porque por ti perdi todo o resto da minha vida. Porque tenho culpa. Culpa de tudo. Porque talvez esta a única coisa que hoje consigo sentir. A dor que não seja por dentro, mas vinda de fora. Porque assim algo é real. Porque custa muito menos.
Queres crescer? Queres secar dentro de mim? Por favor, aceitas corroer-me, destruir-me por dentro? Vem, por favor, eu deixo. Eu juro. Só quero que em ti me mates. Só quero que em mim tu morras.
Há tanto tempo... outra pessoa que não eu. Agora o espelho gritar eu, mas já não ser eu. Uma face vazia, uma cara qualquer, tão sisuda e enfadonha, tão nula, tão nada. Se o fracasso tivesse rosto, sei-lo, seria assim. Seria eu.
Em tempos ouvi dizer que renasceu vida por entre as rochas. Flores à tua volta e assim um novo alguém. Contigo sempre só alguéns. Não sei sequer se temos nome. Acho que sem o saber, certamente sem o querer, alguém me revelou o que calculo que quisesses esconder. Depois de mim o mundo não parou. Sempre tu e o teu astro imaginário em que envolto te vês. Iluminado, julgas tu. Asseguro-te que a lâmpada está fundida. Não emite calor algum. Há muitos anos que, como eu, é somente um nada. Um calor de nada, um sentir de nada, um viver de nada, um amor de nada. Era de ausência de respeito a que se quer chamar amar.
Acabei por descobrir o que significa definhar sem estar doente. Se encosto os dedos uns aos outros descubro inusitadas camadas de gordura; o meu corpo meros ossos segurando a pele manchada de altinhos brancos; já não vejo madeixas de cabelo cair-me no rosto, camadas de empapada oleosidade juntam todas as fibras capitares; se os pés me gelam lá em baixo não quero saber, e a minha cama é o mundo inteiro. Às vezes rompo com a letargia e encontro o abismo. Pesadas camadas de névoa à minha volta, e um pânico crescente em auto-ódio, perder o medo ao tétano e golpear-me furiosamente. Porque mereço. Porque falhei em tudo. Porque me envergonho. Porque agi mal. Porque te perdi. Porque nunca te tive. Porque por ti perdi todo o resto da minha vida. Porque tenho culpa. Culpa de tudo. Porque talvez esta a única coisa que hoje consigo sentir. A dor que não seja por dentro, mas vinda de fora. Porque assim algo é real. Porque custa muito menos.
Queres crescer? Queres secar dentro de mim? Por favor, aceitas corroer-me, destruir-me por dentro? Vem, por favor, eu deixo. Eu juro. Só quero que em ti me mates. Só quero que em mim tu morras.
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