Wednesday, August 22, 2007

Nocturno

Há noites que nos são mais plenamente…Quando as estrelas se entrelaçam e despontam sobre nós vindas da escuridão; quando o mar se ouve ao longe e perto o gato adormece de encontro ao nosso peito…
Há noites que de tão escuras são mais claras: no muito que a lua as brilha, no tudo que se vê enfeitiçado.
Assim, em noites como essas, parece mais possível fugir…e quieto se fica distante, acreditando que o tempo parou.
Nestas alturas penso sempre nas pequenas coisas mascaradas de grandes: os medos, os ódios, as cobiças. Lembro mais alto o sol e em si as memórias que me fazem sorrir, frescas como a brisa que me cerra os olhos quando inspiro a luz desse poente que me invade de calor, isto é, de vida.
As noites em que me deito mais vazia, deixando que os cânticos noctívagos se apoderem de mim, enchem-me de um tudo que me é. É então que me deparo comigo mesma, como quem se olha ao espelho e através do inverso de seus olhos se vê…
Vejo-me por entre um rosto quase estranho, submersa na penumbra de um intenso luar. Parece que os meus olhos choram, mas não há lágrimas. Mortiços e apagados, como se eu me misturasse com as sombras que dançam em meu redor, nos mesmos tons de preto e branco, cores neutras, preto e branco, as não-cores: o preto e o branco.
Há uma voz vinda de dentro que grita um nome que não sei se é o meu… Por permitir que me redefinam todos os dias, esqueci que nome me é…porque sou todos sou também nenhum… Despojada da minha própria identidade, também não reconheço a imagem reflectida no espelho, no lago, na lua…
Escondo-me novamente nas trevas que, rindo de mim, me envolvem, ansiando que desta vez, só desta vez, o sol não me ilumine tão cedo.

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