A Dama da Noite
Á noite, talvez por estar escuro, talvez porque inesperado, abrem-se as corolas de um fruto de odores. A branca leveza de suas pétalas emana o perfume das Primaveras inumanas, e nas almas terrenas espraia-se o fascínio do cântico olfativo que nossos corpos excita. Talvez por ser mistério assim nos prenda, essa aromática rainha floral que a noite aos olhos veda.
Assim nasce, ao cair da noite, o néctar do seu desejo.
Na varanda se debruça para sentir a sua chegada. As mãos enrugadas sobre o ferro forjado do palacete art déco, as mesmas de há vinte anos, encarquilhando-se todas as noites um pouco mais. O seu olhar espectante, sempre estático, indicia a aproximação de algo. Eis que o toca a ansiada brisa. Sorri. Fecha os olhos, crava os dedos no ferro, chega-se um pouco à frente, inspira demoradamente... Sorri nesse inalar quase sufocante, todos os dias um pouco mais longo. Um pequeno saltinho para trás, expira, a cabeça gira, em seus olhos ainda cerrados risos de menina dançando e cantando, rodopiando com as flores que ao mundo atira...
Reabre lentamente os olhos, como quem recusa ver, como quem não aceita que nada é eterno, como quem chora o fim esperado. Sempre o mesmo desesperante vazio lhe fica... E no entanto não considera sequer em sonhos evitar essa dor. Mais vale ser-se pleno por segundos e sofrer todas as restantes horas, a não saborear esta elevação, este unir de alma e corpo num uníssono êxtase de felicidade!
Fechar de novo os olhos, agora já na sala, junto ao frio dos quadros, da poltrona e da lareira, na solidão que a ausência desse extracto de Paraíso lhe traz...
Senta-se pesadamente, exausto. Olha as molduras em volta. O que é um cheiro senão pequenas particulas de memórias?
Assim nasce, ao cair da noite, o néctar do seu desejo.
Na varanda se debruça para sentir a sua chegada. As mãos enrugadas sobre o ferro forjado do palacete art déco, as mesmas de há vinte anos, encarquilhando-se todas as noites um pouco mais. O seu olhar espectante, sempre estático, indicia a aproximação de algo. Eis que o toca a ansiada brisa. Sorri. Fecha os olhos, crava os dedos no ferro, chega-se um pouco à frente, inspira demoradamente... Sorri nesse inalar quase sufocante, todos os dias um pouco mais longo. Um pequeno saltinho para trás, expira, a cabeça gira, em seus olhos ainda cerrados risos de menina dançando e cantando, rodopiando com as flores que ao mundo atira...
Reabre lentamente os olhos, como quem recusa ver, como quem não aceita que nada é eterno, como quem chora o fim esperado. Sempre o mesmo desesperante vazio lhe fica... E no entanto não considera sequer em sonhos evitar essa dor. Mais vale ser-se pleno por segundos e sofrer todas as restantes horas, a não saborear esta elevação, este unir de alma e corpo num uníssono êxtase de felicidade!
Fechar de novo os olhos, agora já na sala, junto ao frio dos quadros, da poltrona e da lareira, na solidão que a ausência desse extracto de Paraíso lhe traz...
Senta-se pesadamente, exausto. Olha as molduras em volta. O que é um cheiro senão pequenas particulas de memórias?
1 Comments:
"E no entanto não considera sequer em sonhos evitar essa dor. Mais vale ser-se pleno por segundos e sofrer todas as restantes horas, a não saborear esta elevação, este unir de alma e corpo num uníssono êxtase de felicidade!"
A vida é um ciclo. Por menos que se queira, apaixonamo-nos, amamos e choramos. E voltamos a apaixonar, a amar e a chorar. A um antigo amor, um novo amor virá. É sádico, mas é a natureza humana no seu profundo abismo de essência.
Um beijinho.
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