Em vão
Parei. Pensei que se parasse em frente à mesma casa, com as mesmas portadas verdes, o mesmo plátano de folhas esvoaçantes, o mesmo vento puxando-me para o lado o cabelo revolto, ainda me olhasses pela janela. Parei, em frente à casa de onde em tempos me espreitavas ao passar pela rua fingindo não te ver, onde depois ambos entrámos de mãos dadas, onde vimos o luar da mesma janela, a mais pequena, só nossa. Hoje ainda estás à janela, olhando qualquer coisa que eu já não sei ver. Fui eu que saí pela porta ou foste tu que ficaste preso à janela? Já não sei o que foi, o que fui, para ainda menos ter noção do que sou... Sei somente que espero por ti à porta, desconhecendo o dia que é, as horas que passaram. Espero, parada à tua frente, como um fantasma que não consegues ver, invisível, alheio ao teu olhar transfixo. Será que ainda te lembras de mim? Será que alguma vez de facto entrei por essa porta e de brisas sorridentes te preenchi? Será que do alto do teu pedestal novamente me vais esboçar um sorriso?
1 Comments:
Ao pararmos à mesma porta nunca encontramos a mesma porta. O tempo corroeu mais um pouco a matéria o cabelo esvoaçou mais um pouco, nunca mais o mesmo será o mesmo, talvez nunca o tenha sido senão naquela caverna escura a que chamamos memória. Mas que importa isso se no entretanto se corroeu a matéria? se nesse instante aquilo que procuráramos já não o era? se o tempo corrói não alterará tudo o que julgáramos verdade?
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