Saturday, April 11, 2009

Exercício de escrita criativa 1

Em criança acreditava que as árvores me respondiam. Passava noites acordada a olhá-las por entre janelas embaciadas. O frio lá fora, o bafo quente da braseira, as vozes lá dentro que sempre pensei que um dia os vidros partissem.
Na Beira há velhotas que se escondem por entre janelas rendadas, há animais que dormem aos nossos pés, nas "lojas", há pedras escuras em que descalços corremos, há sinos que tocam estridentes. Haviam também rixas de gentes que não sabem que a terra se dá, de gentes que servem subservientes, retratos a sépia de uma sociedade feudal.
Se os humanos já não sabiam ouvir-nos, talvez as árvores sorrissem melhor. E por trás da janela, em silêncio, eu falava com a minha amiga de cabelos verdes esvoaçantes. Contava-lhe o meu dia e ouvia o seu. E sabia que ao olhá-la também dentro de mim aquela árvore respirava.

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