pensamentos de uma amante chamada Inês
Acho que nunca soube muito bem ao que vinha. Acho que não encontro retorno. Acho que me habituei. Acho que não sei ser outra coisa. Acho que isto talvez seja o que sou. E o que somos todos afinal? O que fazemos? O que sentimos? Qualquer das duas me torna nada, ou demasiado suja para ser. Só isso me define? Podemos um dia ser o que queremos? O dia em que ninguém mais nos cala. O dia em que mais ninguém nos atira para a terceira idade dos 23 anos, a dor do peso de se ser velho cedo de mais. O dia em que mais ninguém além de nós para que sintamos que somos.
E se hoje te dissesse tudo isto? E se hoje te dissesse "não voltes" quando entrares, careca que cedo será decrépito. E que gosta de mim porque gosta de me mostrar, pedaço de carne que te rejuvenesce com o lapso das gerações que nos separam. Feiras de vaidades e medos de envelhecer. Prometo não te dizer que se calhar nem tens assim tanta importância, que não foste tu que me ensinaste a vestir, a pôr maquilhagem, a ser inteligente, a ser bonita, a foder. Prometo fingir que cresci por causa de ti. Sabias que sei que sou eu como podia ser outra qualquer, que me chamo Inês mas uma Marta, uma Irene, uma Luísa seriam exactamente o mesmo prolongamento do teu esperma?
Mas quando entras sorrio, e se te peço ajuda e me respondes com uma sugestão de broche eu encho a boca e esvazio a alma. Dão nome a isto quando se recebe dinheiro no fim, sabias? E eu nem dinheiro, nem carinho, nem amor. Amor... Amas-me e deixas que me envolva com outros porque "é a minha natureza". A tua provavelmente é não sentir. E mandar. E achar estranho eu não saber. E ser tão magnânimo ensinador. Um dia trocas-me por uma virgem e acho que me vais chamar de putinha quando me lembrares com os teus amigos numa noite de copos. Será que não o fazes já? Gastei toda a minha juventude com a ilusão de te ser. Hoje acho que saio por essa porta assim que entres e nunca mais volto. Juro que só vou dizer adeus, nada mais. Quando chegares eu talvez não esteja aqui. Quando chegares, eu juro, hoje é a última vez.
E se hoje te dissesse tudo isto? E se hoje te dissesse "não voltes" quando entrares, careca que cedo será decrépito. E que gosta de mim porque gosta de me mostrar, pedaço de carne que te rejuvenesce com o lapso das gerações que nos separam. Feiras de vaidades e medos de envelhecer. Prometo não te dizer que se calhar nem tens assim tanta importância, que não foste tu que me ensinaste a vestir, a pôr maquilhagem, a ser inteligente, a ser bonita, a foder. Prometo fingir que cresci por causa de ti. Sabias que sei que sou eu como podia ser outra qualquer, que me chamo Inês mas uma Marta, uma Irene, uma Luísa seriam exactamente o mesmo prolongamento do teu esperma?
Mas quando entras sorrio, e se te peço ajuda e me respondes com uma sugestão de broche eu encho a boca e esvazio a alma. Dão nome a isto quando se recebe dinheiro no fim, sabias? E eu nem dinheiro, nem carinho, nem amor. Amor... Amas-me e deixas que me envolva com outros porque "é a minha natureza". A tua provavelmente é não sentir. E mandar. E achar estranho eu não saber. E ser tão magnânimo ensinador. Um dia trocas-me por uma virgem e acho que me vais chamar de putinha quando me lembrares com os teus amigos numa noite de copos. Será que não o fazes já? Gastei toda a minha juventude com a ilusão de te ser. Hoje acho que saio por essa porta assim que entres e nunca mais volto. Juro que só vou dizer adeus, nada mais. Quando chegares eu talvez não esteja aqui. Quando chegares, eu juro, hoje é a última vez.
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