O regresso a casa
Em tudo tão igual a mim. Muito além dos interesses comuns, muito além do mesmo tipo de humor, muito além das concepções de vida, das ideologias, das crenças, dos medos. Muito além do quotidiano da vontade de dormitar, do quotidiano do local onde se guarda a fruta, do quotidiano de ler antes de dormir. Muito além de tudo o que é vida comezinha, e bem assim vida real, em tudo és igual a mim, nos sonhos, nas vontades, nas alegrias desmesuradas, nas rotinas internas, na forma de pensar, na expressão do que se sente, na problematização do que se diz, nas indagações metafísicas, no espanto de viver. Em tudo iguais e compatíveis, aquele sentimento que traz um friozinho na barriga e faz pensar que é quase perfeito.
Em tudo nos compreendíamos, e assim nos complementávamos no que nos distinguia. O teu comodismo e o meu espírito aventureiro, a minha insegurança e a tua confiança, a tua timidez e a minha sociabilidade, a tua solidão e a minha partilha. A nossa dedicação.
Em tudo nos sentíamos tão próximos que o coração apertava criando um lugar só nosso. Lembro que às vezes aprendia a gostar do silêncio, porque nesse lugar, mesmo que contigo fisicamente ausente, nunca me sentia só. Estavas dentro de mim.
Não precisava de ti para acordar, para adormecer, para trabalhar, para me divertir. Não precisava de ti para pensar, para criar, para sorrir. Não precisava de ti, como tu não precisavas de mim. Não precisávamos um do outro porque nos tínhamos. Amar traz-nos a liberdade de encontrar um refúgio ao fim do dia, viver a azáfama do dia sabendo que um espaço mais íntimo nos espera quando terminar o rodopio quotidiano da vida que construímos para nós. Não precisava de ti, porque te amava, e só se ama plenamente quando se é livre.
Hoje continuo a correr desenfreadamente para completar tarefas, cumprir prazos, melhorar-me. Hoje continuo a sorrir, a pensar, a sentir. Hoje, tudo igual, mas tu não estás mais nesse lugar que criei em mim para te acolher. Hoje não sei o que é feito de ti. Muito além das rotinas que certamente mantens, tão semelhantes às minhas, muito além dos livros que lês, das músicas que ouves, dos dias que te passam pelos dedos todos iguais, como os meus, repetidos até à exaustão da vida que escolhi para mim. Muito além desse mundo externo a que nos entregamos existe um eu que não mais te encontra ao regressar a casa, e longamente se deita entre teus braços como quem sonha o onirismo que vive. Muito além do turbilhão dos dias que correm devagar havia um quarto de felicidade que trazia o teu sorriso ao meu olhar, havia um segundo gelado no tempo, uma brisa mais suave, um reencontro com a alma primeira que me fez ser quem sou. Muito além desta vida existia um nós. Hoje há o vazio que em mim deixaste e que cozo lentamente por dentro. O teu lugar em mim permanece intacto, fechando-se lentamente para não me magoar. O teu mundo que em mim florescia estagna... Nada o preenche ou preencherá, és tu no que me foste. És tu em mim.
Hoje quando voltar para casa vou fechar a porta do quarto atrás de mim. Quero deitar-me dentro de mim e acreditar que amanhã um novo mundo se espreguiçará diante de um novo coração.
Em tudo nos compreendíamos, e assim nos complementávamos no que nos distinguia. O teu comodismo e o meu espírito aventureiro, a minha insegurança e a tua confiança, a tua timidez e a minha sociabilidade, a tua solidão e a minha partilha. A nossa dedicação.
Em tudo nos sentíamos tão próximos que o coração apertava criando um lugar só nosso. Lembro que às vezes aprendia a gostar do silêncio, porque nesse lugar, mesmo que contigo fisicamente ausente, nunca me sentia só. Estavas dentro de mim.
Não precisava de ti para acordar, para adormecer, para trabalhar, para me divertir. Não precisava de ti para pensar, para criar, para sorrir. Não precisava de ti, como tu não precisavas de mim. Não precisávamos um do outro porque nos tínhamos. Amar traz-nos a liberdade de encontrar um refúgio ao fim do dia, viver a azáfama do dia sabendo que um espaço mais íntimo nos espera quando terminar o rodopio quotidiano da vida que construímos para nós. Não precisava de ti, porque te amava, e só se ama plenamente quando se é livre.
Hoje continuo a correr desenfreadamente para completar tarefas, cumprir prazos, melhorar-me. Hoje continuo a sorrir, a pensar, a sentir. Hoje, tudo igual, mas tu não estás mais nesse lugar que criei em mim para te acolher. Hoje não sei o que é feito de ti. Muito além das rotinas que certamente mantens, tão semelhantes às minhas, muito além dos livros que lês, das músicas que ouves, dos dias que te passam pelos dedos todos iguais, como os meus, repetidos até à exaustão da vida que escolhi para mim. Muito além desse mundo externo a que nos entregamos existe um eu que não mais te encontra ao regressar a casa, e longamente se deita entre teus braços como quem sonha o onirismo que vive. Muito além do turbilhão dos dias que correm devagar havia um quarto de felicidade que trazia o teu sorriso ao meu olhar, havia um segundo gelado no tempo, uma brisa mais suave, um reencontro com a alma primeira que me fez ser quem sou. Muito além desta vida existia um nós. Hoje há o vazio que em mim deixaste e que cozo lentamente por dentro. O teu lugar em mim permanece intacto, fechando-se lentamente para não me magoar. O teu mundo que em mim florescia estagna... Nada o preenche ou preencherá, és tu no que me foste. És tu em mim.
Hoje quando voltar para casa vou fechar a porta do quarto atrás de mim. Quero deitar-me dentro de mim e acreditar que amanhã um novo mundo se espreguiçará diante de um novo coração.
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