Delirante vento da madrugada e suas reflexões insípidas
Era para ter saído. Era para ter trabalhado num projecto antigo que se arrasta. Era para ter lido, talvez, e certamente dormido, era para ter escrito algo de útil e ter programado os dias, nova agenda, afazeres obrigatórios e culturais deleites de espírito, tudo delineado em alemã exaustão. Não quero. Gosto da espontaneidade do vou e pronto, que não posso, e de dizer hoje quero Porto e partir, também não posso. De tanto não poder ardem-me amarras. E para meu próprio espanto já não doem.
Passo a vida a querer fugir, querer mudar, saltitar de nova em nova actividade, aprender mais, conseguir mais, ver mais, e apesar disso no fundo somente fugir... É não estar bem em parte alguma, é nunca nada me chegar. Quis ser tanto e tudo o que não sou que me perco e assim prejudico o que ainda posso. Escolhi estudar Direito pelos mesmos motivos que antes quis ser psicóloga: ajudar os outros, dedicar-me a um bem maior, lutar por algo melhor, lutar por um sonho, ser possível, ser mais suave, a vida existir em todos de facto. Escolhi deixando um pouco para trás...Escolhi o racional desafiante, deixei o impulso criativo, e nunca soube desligar-me, por isso o cinema voltou, por isso se apoderou, por isso a música para trás com lágrimas que fui guardando. Tenho demasiada vida pulsando cá dentro, irrompendo em actos de tudo a que me dediquei ou deixei de dedicar, uma imensidão de ser que nunca aprendi bem a explorar. Amarras com que me prendo por medo ou sede de algo que não tenho, amarras de tempos que desperdiço em homens que julgo poder salvar, vidas disfuncionais e intrigantes, amores impossíveis que quero tornar meus. Assim me perco, assim me dou, assim me escondo. Escrever é tudo o que me resta, esperando um pouco de talento no final, esse em bruto ou potencial que guardo longe, porque até aos 30 anos não se publica, não é Virginia? Até aos 30, símbolo da maturidade intelectual e criativa.
Enquanto espero uma luz, que se o prolongado estado de insónia ficar nunca virá, vou planeando, e fazendo, às vezes fugindo, às vezes ficando, às vezes acreditando que é possível tudo ao mesmo tempo, outras decidindo mudar, e assim me defino e me vou sendo, jovem criança em corpo que se quer adulto, anciã alma em corpo jovem. Um dia por inteiro. Um dia. E até lá ficam as estrelas, fica Maria João cantando pela enésima vez ao vivo no Hot Clube, fica a sua voz forte de terra e divinamente suave eternamente incrustada em meus ouvidos, ficam as estrelas no céu e um cavalo branco ao longe. Hoje não me importa se desce ou não. Não quero mais ser salva. Quero encontrar o eu de que tanto fujo. E calando um antigo céptico suspiro digo: talvez até goste de mim. Só aí outro será, e sei que não intervenção divina, não conto de fadas, não alado salvador, mas ao invés bem real, dançando bem perto, apertando-me, o vento rodeando e depois...o que o vento esconde só a nós pertence, um mundo outro que sejamos nós.
Passo a vida a querer fugir, querer mudar, saltitar de nova em nova actividade, aprender mais, conseguir mais, ver mais, e apesar disso no fundo somente fugir... É não estar bem em parte alguma, é nunca nada me chegar. Quis ser tanto e tudo o que não sou que me perco e assim prejudico o que ainda posso. Escolhi estudar Direito pelos mesmos motivos que antes quis ser psicóloga: ajudar os outros, dedicar-me a um bem maior, lutar por algo melhor, lutar por um sonho, ser possível, ser mais suave, a vida existir em todos de facto. Escolhi deixando um pouco para trás...Escolhi o racional desafiante, deixei o impulso criativo, e nunca soube desligar-me, por isso o cinema voltou, por isso se apoderou, por isso a música para trás com lágrimas que fui guardando. Tenho demasiada vida pulsando cá dentro, irrompendo em actos de tudo a que me dediquei ou deixei de dedicar, uma imensidão de ser que nunca aprendi bem a explorar. Amarras com que me prendo por medo ou sede de algo que não tenho, amarras de tempos que desperdiço em homens que julgo poder salvar, vidas disfuncionais e intrigantes, amores impossíveis que quero tornar meus. Assim me perco, assim me dou, assim me escondo. Escrever é tudo o que me resta, esperando um pouco de talento no final, esse em bruto ou potencial que guardo longe, porque até aos 30 anos não se publica, não é Virginia? Até aos 30, símbolo da maturidade intelectual e criativa.
Enquanto espero uma luz, que se o prolongado estado de insónia ficar nunca virá, vou planeando, e fazendo, às vezes fugindo, às vezes ficando, às vezes acreditando que é possível tudo ao mesmo tempo, outras decidindo mudar, e assim me defino e me vou sendo, jovem criança em corpo que se quer adulto, anciã alma em corpo jovem. Um dia por inteiro. Um dia. E até lá ficam as estrelas, fica Maria João cantando pela enésima vez ao vivo no Hot Clube, fica a sua voz forte de terra e divinamente suave eternamente incrustada em meus ouvidos, ficam as estrelas no céu e um cavalo branco ao longe. Hoje não me importa se desce ou não. Não quero mais ser salva. Quero encontrar o eu de que tanto fujo. E calando um antigo céptico suspiro digo: talvez até goste de mim. Só aí outro será, e sei que não intervenção divina, não conto de fadas, não alado salvador, mas ao invés bem real, dançando bem perto, apertando-me, o vento rodeando e depois...o que o vento esconde só a nós pertence, um mundo outro que sejamos nós.
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