Friday, February 11, 2011

overdose

Tenho demasiado silêncio dentro de mim. E nenhum silêncio é sossegado. Há uma dor que me cresce entre a pupila e o osso occipital. Há um aperto a sufocar-me, tenazes que me espremem os pulmões, contorcendo-os com as mãos decrépitas de amores moribundos.
Tenho demasiado tempo dentro de mim. E nenhum tempo apaga a dor já instalada e implantada, cravada e soterrada, adormecida como um vulcão, bem dentro do coração.
Tenho demasiado amor dentro de mim. Amor que renasce em cada vida que me cruza, amor que brota em geração espontânea, rasgando-se ao desbarato por tudo o que é bom e por tudo o que é vil.
Tenho tanta raiva e mágoa e solidão e amor e saudade a transbordar dentro de mim…que parece que não consigo parar, quando parece que também não sei mais andar. Sento-me por fim no mesmo banco de jardim. Sento-me num turbilhão de memórias, debaixo do mesmo céu estrelado de outrora, imersa numa mesma floresta tropical imaginária, um mesmo céu arroxeado de madrugada, um mesmo corte de energia inusitado e a cidade de repente só nossa. O tempo parou naquele dia, sabes? E sei que só ali nos fomos realmente, nem antes nem depois, apesar de tudo o que vivemos. Só ali soubemos ler dentro de nós palavras que se tocaram e criaram um nós que esvoaçou na bruma disfarçada da luz eléctrica que retorna.
Tenho demasiadas vozes dentro de mim, e um esquecimento que me pesa sobre os ombros. Tenho o tempo que me resta e que me foi, e uma vida que não sei como gerir. Tenho dentro de mim um mundo de emoções que o mundo não quer ouvir. Tenho-te a ti tão longe… Tão longe que não sei sequer se ainda me ouves… Tão longe que mesmo estando perto não me sabes mais ouvir.
Feliz dia dos namorados. Hoje tenho tempo que chegue para o dizer sem o sentir.

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