Irene
Devolvam-me o livro de Irene. Para que possa sugar-lhe as palavras sílaba a sílaba, como se sorve com a boca o suor de um corpo. Para que em mim brote de novo o encanto alucinado de mentes mais elevadas, como se erguem gementes orgasmos masculinos.
Deixem-me voltar à floresta de Irene. E mergulhar nas sombras das árvores que sei de cor, porque as sou. E expirar-me no ar que o plâncton do pântano de Irene abraça. E reencontrar-me em cada folha caída, em cada clareira, em cada caminho por desbravar.
Encontrem-me o rosto fotográfico de Irene. Perdido entre memórias que ninguém mais sabe contar. Abandonado em cofres bordados de flores, vestígios de tempos de cosedura sob a luz do fogo que se apaga devagar.
Apertem-me o espaço de Irene contra o peito, até ficar marcado, como um ferro no dorso de um cavalo, como unhas que devoram a epiderme desejada, como fogos que ardem mesmo sem se ver. Imolem-me no sangue ardente de Irene, no coração da floresta, com os pés dormentes pela gélida putrefeita água do pântano; dentro dos livros desenhados e riscados e folheados, livros secretos escritos dentro da alma, a duas mãos, no silêncio de dois batimentos cardíacos perfazendo um só.
Tragam-me de volta Irene, para um espaço onde a velhice não me amorteça a voz desdentada, onde a doença não me encolha a carne até ao vácuo, onde um sonho seja ainda possível realidade, e não a certeza do inalcançável.
Permitam-me que ame novamente Irene, todo o meu corpo sobre si deitado, toda a minha alma em si envolta, tudo o que sou e o que não sou, um sonho, uma realidade, uma vida construída repetidamente, renascendo a cada instante ao som da melodia do eterno brilho que me fica no olhar.
Deixem-me ser de novo Irene, tão branca, tão leve, tão sorridente, tão sublime, tão minha.
Deixem-me entrar em casa sem cambalear e encontrar uma Irene que não seja pedra de lápide fria, antes lábios de amor para me beijar. Antes braços que me envolvam sem nunca me largar. Até morrer. Três segundos depois. Feliz.
Deixem-me voltar à floresta de Irene. E mergulhar nas sombras das árvores que sei de cor, porque as sou. E expirar-me no ar que o plâncton do pântano de Irene abraça. E reencontrar-me em cada folha caída, em cada clareira, em cada caminho por desbravar.
Encontrem-me o rosto fotográfico de Irene. Perdido entre memórias que ninguém mais sabe contar. Abandonado em cofres bordados de flores, vestígios de tempos de cosedura sob a luz do fogo que se apaga devagar.
Apertem-me o espaço de Irene contra o peito, até ficar marcado, como um ferro no dorso de um cavalo, como unhas que devoram a epiderme desejada, como fogos que ardem mesmo sem se ver. Imolem-me no sangue ardente de Irene, no coração da floresta, com os pés dormentes pela gélida putrefeita água do pântano; dentro dos livros desenhados e riscados e folheados, livros secretos escritos dentro da alma, a duas mãos, no silêncio de dois batimentos cardíacos perfazendo um só.
Tragam-me de volta Irene, para um espaço onde a velhice não me amorteça a voz desdentada, onde a doença não me encolha a carne até ao vácuo, onde um sonho seja ainda possível realidade, e não a certeza do inalcançável.
Permitam-me que ame novamente Irene, todo o meu corpo sobre si deitado, toda a minha alma em si envolta, tudo o que sou e o que não sou, um sonho, uma realidade, uma vida construída repetidamente, renascendo a cada instante ao som da melodia do eterno brilho que me fica no olhar.
Deixem-me ser de novo Irene, tão branca, tão leve, tão sorridente, tão sublime, tão minha.
Deixem-me entrar em casa sem cambalear e encontrar uma Irene que não seja pedra de lápide fria, antes lábios de amor para me beijar. Antes braços que me envolvam sem nunca me largar. Até morrer. Três segundos depois. Feliz.
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