Monday, October 15, 2007

Despertar

Sacudam
ventos o sol
que já não brilha!

Por todo o lado,
bradados,
cânticos de feras
nos agitem!

E de teu
meu corpo seja
feito treva

E por ti
em mim se cale
já meu grito

E no sangue
que me enche
e não esvazia,

Brotai
fogo primeiro,
de nossos
outros dias.

Saturday, October 13, 2007

Desenlace

E de novo o sol desponta sobre o rio. E levanta-se tão lentamente que parece inerte o tempo à nossa volta. Parece que nunca mais nasce, que fica sempre expectante, pairando ao redor. Ainda dás por isso? O nascer do dia, as andorinhas em rodopio, o cintilar das águas, o frio contra os corpos em chama. Ainda te lembras?
Dizem que depois já não havia nada, nem sol, nem luz, nem olhos brilhando, nem evocações da praia (mas de Inverno). Dizem que depois já não te lembravas e que nem querias saber, dizem que passei como uma pequena farpa pela tua vida e voei. Dizem que faltou tempo, faltou intensidade, faltou espaço, faltou verdade, que tudo faltou para que deveras algo fosse. Dizem que passaste por mim e não me viste, que não me foste. Dizem que ao longe as vidraças nunca brilharam, e que só na minha mente (e no meu coração) algum amor existe… Dizem que ainda ris, que ainda olhas com sorrisos a vida que corre lá fora e te cresce bem dentro. Dizem que ainda não sabes ser feliz. Dizem que continuas o mesmo: o mesmo cabelo desalinhado, o mesmo riso de miúdo, a mesma sagacidade, o mesmo humor refinado. Dizem que ainda te levantas, ainda que tarde, e que parece que estás mais revolucionário. Dizem que vais ficar bem. E eu fico feliz.
Dizem que vives, e que de mim já nada dizes.