Wednesday, February 21, 2007

Recomeçar

Aurora boreal, espaço alado de mim. Nos raios do crepúsculo, nos sorrisos das ruas, nos cânticos das árvores esvoaçando sobre mim, em mim...No espaço dos sonhos que nos somos...
Novos projectos a cada etapa. Novas quedas, novas vitórias. Ser feliz é saber olhar o mundo, vivê-lo em pleno. É inspirá-lo! É ri-lo! É chorá-lo! É amá-lo! É sorvê-lo! É senti-lo!
Ser feliz é saber recomeçar...Guardar dentro de nós o que passou (num frasquinho especial sobre a estante) e partir do zero, olhar em frente. A vida é um mundo imenso de emoções.
Ser feliz é olhar o mar sem que ele esteja à nossa frente. É olhá-lo atentamente quando invade nossos pensamentos e é somente uma miragem, enquanto suas suaves ondas ruidosas acompanham nossa respiração profunda, aliviante, sentida.
A vida, tumulto eufórico de sensações, nasce, morre e renasce a cada instante...Aurora boreal no gélido glaciar do tempo.

Matinal

Sempre me deixei fascinar por pequenas coisas. O suave estalido da colher pousando no pires da chávena de café (depois de mexê-lo, com o braço todo em movimento, como o meu pai faz, e não só a mão e o pulso refastelado sobre a mesa, como a maioria das pessoas); a espuma da "bica" a desfazer-se na minha boca, lembrando o mar rebentando contra os meus pés, olhos fechados saboreando o sal, o sol, o açúcar adoçando o palato e a alma em cinco segundos de êxtase.
Lembro-me sempre das manhãs na Beira. Sete da manhã deitada na cama de madeira, a casa gelada, a braseira saturando o azulado do frio, contando as badaladas que me dizem o tempo que passou desde que acordei ( porque sempre tive insónias), a música sacra lembrando a serra que sempre me trouxe à mente imagens de vestidos oitocentistas e fotografias de cadáveres que ganham vida, mas sempre em tons de sépia ( porque em criança recriava o passado na tonalidade do papel em que o via retratado).
Essas memórias tornam-me nostálgica...Saudades do arrepio calado pelo abraço das mantas, os pés procurando pernas mais quentes em noites mais frias...Tenho saudades do Inverno e das desculpas que ele nos permite. Subtis chantagens emocionais que são na verdade jogos de sedução.
Como sempre tudo me traz de volta a ti...Relembro os velhotes felizes que nos imaginámos, passando o tempo devagar pelos corpos jovens. Revejo as horas que nos fomos (e algumas já nem lembrava! A dor da perda faz sempre renascer novas emoções). Revejo o mar que nos envolvia na sua bruma matinal enquanto apaixonadamente me observavas levantar de um mergulho, afastando as águas nas novas cores que à tua alma trazia.
Ao longe hoje o mar...E a memória das palavras proibidas.

Monday, February 05, 2007

Carta para João

As vozes, os gritos, as cores que são tão baças, o chão que parece balançar, os ecos do que dizes, porque tudo me parece uma ilusão...Os tumultos que te ferem, a solidão que te corrompe, a culpa que te violenta, o medo que te treme, a insegurança que te move...Tanto em ti por explorar, tanto tão magnânimo, tanta essência pura, alma sublime...Há um mundo imenso que és tu, e que sorri a cada raio que me acorda...Memórias de sorrisos, de gargalhadas estúpidas, de olhares que tudo dizem, de olhares que emanam amor...Saudades de acordar abraçada a ti e adormecer sobre o teu peito...Saudades das conversas, das confissões, das tertúlias, das divagações, dos passeios, dos cappucinos, dos chás aquecendo os dedos frios, das sessões de home cinema, das massagens nos pés (you know what a footmassage means! Pulp Fiction)...Saudades de respirar o mesmo ar na mesma esfera onde só nós podiamos ser, no mundo que viamos com os mesmos olhos, no tudo que partilhávamos e que éramos...Despedi-me de ti. Ficas em mim como memória perfeita, como eterno amigo, sempre presente, como elemento crucial na minha vida...Meu primeiro amor.