Os pénis atrofiados
"Acho bem que a mulher tenha alcançado igualdade em relação ao homem mas não pode fazer o mesmo que critica nele, não pode perder a sua dignidade". Assim dito até parece bonito, quase parece igualitário. Dito assim parece um homem moderno, século XXI, daqueles que percebe que a homossexualidade não é uma doença, daqueles que não discriminam em função de raça, etnia, nacionalidade. Daqueles que estão em paz com a sua consciência.
Assim exposta a questão quase pensamos que Portugal está menos machista, que a nova geração marca a diferença, que há esperança. Podemos todos ir a um bar e ter igual direito a sentir desejo, e levar para casa, sexo faz-se a dois e portanto ambos são iguais. Podemos ter amigos que gostam de one night stands e nós não e sairmos todos juntos e não sermos todos metidos no mesmo saco. Podemos foder alguém só porque nos apetece e lhe apetece e isso não nos rotular, o homem o herói da testosterona e a mulher a porca puta de esquina. Nada disto é hoje Portugal, Europa, Mundo, não é?
Mas dá-se por garantido que está no papo, e comenta-se a maior ou menor intensidade com que se abre as pernas, e relembra-se e acrescentam-se momentos de loucura em praça pública, e "que foda!" e "que grande putéfia" e "fi-la gritar" e são as duas iguais por isso "só não sei onde vou dormir esta noite..." esperando que com ela. E elas sou eu, és tu, todas as mulheres reais e por nascer. Anos de luta e revolta não serviram para uma revolução sexual. Há hoje mulheres grandes profissionais, mulheres em cargos dirigentes, mulheres políticas, mulheres independentes, mas há ainda mulheres despedidas por gravidez, mulheres que são putas se se vestem mais ousadamente, que "querem é chamar a atenção", que "estão a pedi-las", mulheres que são carne de supermercado ou rameiras porque "perdem a dignidade", essa que parece que o homem nunca teve. A mulher se quer ser igual ao homem deve ser melhor que ele e não ter a mesma oportunidade, antes superar numa ética de divindade castrada. De facto, deve ser esse o sonho de qualquer mulher, dessas extremistas que queimavam soutiens. Não há opressão que se vença sem um pouco do que chamam "extremismo". Revolução define-se por ruptura e qualquer cisão é um extremo. Então que me chamem extremista, que me chamem fanática se não sabem a distinção. Não quero é ouvir mais barbaridades de mulheres que "não podem perder a dignidade", que é por pouco mais que há outras partes do globo (essas sim fanáticas) em que a mulher é chicoteada, apedrejada, enforcada porque, imagine-se, tem hormonas e desejo sexual.
E neste país de touros e de vinho e de testes de virilidade, afinal o que um Filipe disse podia ter sido dito por um Diogo, ou um João, ou um Miguel, ou todos os nomes de homem que se imagine. E, cereja no topo do bolo, chega depois uma Patrícia e declara altivamente que "a turca (não tem nome?! ah, é verdade, por esses lados é tudo Mustafa e as mulheres nem se sabe porque não têm voz nesses países atrasados em que se usa burca, não é?) é uma puta". E eis que o machismo também floresce nos pénis atrofiados das mulheres.
Assim exposta a questão quase pensamos que Portugal está menos machista, que a nova geração marca a diferença, que há esperança. Podemos todos ir a um bar e ter igual direito a sentir desejo, e levar para casa, sexo faz-se a dois e portanto ambos são iguais. Podemos ter amigos que gostam de one night stands e nós não e sairmos todos juntos e não sermos todos metidos no mesmo saco. Podemos foder alguém só porque nos apetece e lhe apetece e isso não nos rotular, o homem o herói da testosterona e a mulher a porca puta de esquina. Nada disto é hoje Portugal, Europa, Mundo, não é?
Mas dá-se por garantido que está no papo, e comenta-se a maior ou menor intensidade com que se abre as pernas, e relembra-se e acrescentam-se momentos de loucura em praça pública, e "que foda!" e "que grande putéfia" e "fi-la gritar" e são as duas iguais por isso "só não sei onde vou dormir esta noite..." esperando que com ela. E elas sou eu, és tu, todas as mulheres reais e por nascer. Anos de luta e revolta não serviram para uma revolução sexual. Há hoje mulheres grandes profissionais, mulheres em cargos dirigentes, mulheres políticas, mulheres independentes, mas há ainda mulheres despedidas por gravidez, mulheres que são putas se se vestem mais ousadamente, que "querem é chamar a atenção", que "estão a pedi-las", mulheres que são carne de supermercado ou rameiras porque "perdem a dignidade", essa que parece que o homem nunca teve. A mulher se quer ser igual ao homem deve ser melhor que ele e não ter a mesma oportunidade, antes superar numa ética de divindade castrada. De facto, deve ser esse o sonho de qualquer mulher, dessas extremistas que queimavam soutiens. Não há opressão que se vença sem um pouco do que chamam "extremismo". Revolução define-se por ruptura e qualquer cisão é um extremo. Então que me chamem extremista, que me chamem fanática se não sabem a distinção. Não quero é ouvir mais barbaridades de mulheres que "não podem perder a dignidade", que é por pouco mais que há outras partes do globo (essas sim fanáticas) em que a mulher é chicoteada, apedrejada, enforcada porque, imagine-se, tem hormonas e desejo sexual.
E neste país de touros e de vinho e de testes de virilidade, afinal o que um Filipe disse podia ter sido dito por um Diogo, ou um João, ou um Miguel, ou todos os nomes de homem que se imagine. E, cereja no topo do bolo, chega depois uma Patrícia e declara altivamente que "a turca (não tem nome?! ah, é verdade, por esses lados é tudo Mustafa e as mulheres nem se sabe porque não têm voz nesses países atrasados em que se usa burca, não é?) é uma puta". E eis que o machismo também floresce nos pénis atrofiados das mulheres.